7 de agosto de 2011

Syd Barret e um reencontro com uma amiga

Acho que, às vezes, é muito difícil perceber para onde se está indo de verdade.

E o problema que há nisso não é realmente se desconhecer para onde se está indo - se alguém quiser me dar uma passagem surpresa para Paris, por exemplo, eu não vou ficar triste. O problema é não conseguir voltar quando a gente chega num lugar em que não queriamos estar. E, claro, lugar aqui não significa realmente um lugar, mas um estado, por que não dizer, de espírito.

Escrevo isso um pouco inspirado em coisas que eu vi hoje e não esperava que fosse viver algo que me remetesse a uma realidade tão distante. Mas acho que a beleza das coisas - e a tristeza- também é vermos o que temos em comum com essas coisas fantásticas.

(...)

5 de março de 2010

19 de novembro de 2009

"..."

Ainda me impressiona como pessoas pegam a primeira música que está tocando no Media Player e copiam um verso qualquer da música. Depois colam por ai a fora, como se fosse a frase feita sob medida pro momento da vida.

Colam porque acham poético e bem escrito, e só. É a vontade de encaixar algo bonito no momento; romancear a coisa.

Claro, se o intuito é ter algo bonito para outros lerem, então é esse o caminho mesmo. Podem içar as velas e botar os óculos escuros, que o barco está no caminho certo.

Agora, se é pra fazer referência a algum sentimento próprio, como às vezes parece ser, que escrevam meia dúzia de palavras mal escritas e sinceras.

E tenho dito.

11 de novembro de 2009


"We rest here while we can, but we hear the ocean calling in our dreams,
And we know by the morning, the wind will fill our sails to test the seams,
The calm is on the water and part of us would linger by the shore,
For ships are safe in harbor, but that's not what ships are for."


23 de abril de 2009

Dica Profissional

Quando, na próxima festa, alguém te perguntar :

- Você está bêbado ?


Não hesite em dizer:

- Estou apenas sendo pró-ativo e dinâmico.


Soa mais profissional.

27 de outubro de 2008

Oswaldo e as linhas

Oswaldo sempre preferiu linhas a pontos. Ou melhor, nunca viu um ponto na vida. Quando de pontos se tratava, a linhas sempre recorria.

Nos seus passeios, nunca lembrava do que via, só do que tivesse uma história, ou só do que tivesse um caminho pronto. Algo que fizesse sentido. E nunca fez sentido a contemplação pura, pois nunca houve um ponto, só pontos. Como na matemática, num gráfico, onde um ponto é invisível, uma abstração; ele só via linhas. Só ligava pontos.


Não que se tratasse só de retas, muito pelo contrário. Eram mais curvas do que qualquer outra coisa, curvas que se cruzavam - embora na maioria das vezes voltassem pro mesmo lugar.
Mas sempre houve infinitos pontos ao redor dessas retas, mas pontos esses que Oswaldo nunca teve a oportunidade de ver. Aliás, a idéia de infinito era pra ele pior do que qualquer outra, nada o atormentava mais.

Nas aulas de matemática no segundo grau e nos primeiros períodos da faculdade de engenharia sentia dor de cabeça só de falarem em infinito. Mas depois passaram, ele associou o infinito à um símbolo e criou uma história pro símbolo; o resto decorou.
Porque o problema com infinito vinha desde muito tempo, ele já havia desistido.

Talvez, a primeira manifestação tenha sido numa visita ao Planetário, na terceira série, onde, na sessão de perguntas abertas aos alunos no final da apresentação, perguntou a um astrônomo como era o infinito; o cientista o ignorou e respondeu à pergunta do amigo do lado. Ele nunca se recuperou.


Porém, antes que voe a primeira garrafa no autor do conto, há de se dizer: o infinito talvez seja uma das idéias mais difíceis que existam sim, ou talvez a idéia mais difícil. Idéia essa que já fascinou tantos autores, de Borges à Nietzsche.

E, talvez, conseguir enxergar um ponto seja o oposto dessa idéia, mas tão difícil quanto imaginar o infinito. Por isso se constroem os aceleradores de partícula, tentar ver o nunca visto; fazer a ciência evoluir.
Ciência essa que não usa um método muito diferente do Oswaldo. São sempre histórias. Um átomo, por exemplo, com todos seus elétrons, nunca foi visto. Mas é uma história bem convicente. Ou a física. São histórias que fazem sentido; teorias e hipóteses.

Por isso, Oswaldo sempre foi um homem da ciência, e nunca da fé. Por isso nunca viu mais do que linhas.